Sunday 1 September 2013

Kick-Ass 2: Agora é a Doer

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Título original Kick-Ass 2
Realização Jeff Waddlow
IMDB  

Depois dos eventos de Kick-Ass Dave Lizewski (Aaron Johnson) e Mindy Macready (Chloë Moretz) estão a braços com o “mundo real”. Dave volta à rotina do liceu e está entediado. Mindy entra no liceu pela primeira vez e tenta adaptar-se ao mundo tal como ele é, uma vez que já não vive na “bolha” criada pelo seu desaparecido pai que a criou como “Hit-Girl” como se isso fosse normal. O tédio de Dave leva-o a procurar Mindy para lhe propor um “team-up” de Hit-Girl e Kick-Ass. Mas Mindy terá de o treinar para que Kick-Ass retorne como “the real thing”. Entretanto Chris D’Amico (Christopher Mintz-Plasse) intitula-se “super-vilão” e planeia a vingança contra Kick-Ass.

Uma sequela de Kick-Ass não seria empreendimento fácil para ninguém. Kick-Ass assentava num equilíbrio extremamente difícil entre ingenuidade juvenil, violência, “gore”, humor e delírio total e completo. Era (é) um objecto extraordinário porque conseguia fazer esse equilíbrio dificílimo e resultar. Normalmente não resulta.

Parte do elenco de Kick-Ass 2 transita de Kick-Ass mas não o realizador nem a argumentista. Kick-Ass era baseado na BD Kick-Ass de Mark Millar e John Romita Jr. Kick-Ass 2 é baseado nos dois comic-books de Millar e Romita Jr. que a continuaram (Hit-Girl e Kick-Ass 2). Pode por isso ser analisado de dois ângulos: como adaptação e como filme.

Kick-Ass 2: como adaptação

Adaptações de Banda Desenhada para o Cinema dão normalmente asneira, apesar de o senso-comum poder, à partida, fazer pensar o contrário. A linguagem da Banda Desenhada bebeu muitas influências do cinema e a técnica de story-boarding foi por sua vez importada pelo Cinema como técnica de planeamento das sequências a filmar. Mas a verdade é que, se estes dois meios de expressão partilham alguma da linguagem visual, normalmente não combinam muito bem. São raras as adaptações de BD que resultam em bons momentos de Cinema. Kick-Ass “convida” à adaptação, uma vez que parte de alguma sátira aos comic-books de “super-heróis” e a produção dos estúdios de Hollywood está hoje saturada de franchises de “filmes de super-heróis”. Por deficiência cultural minha não conheço em concreto o trabalho de Mark Millar (argumento) e John Romita Jr. (desenho) em Hit-Girl e em Kick-Ass 2 mas uma leitura dos artigos da Wikipedia que lhes são dedicados permite perceber que, como adaptação, Kick-Ass 2 (o filme) tomou do material de origem apenas a estrutura geral e não os pormenores. O que se percebe perfeitamente, dado que as duas BD têm um grau de brutalidade e violência, física e psicológica, incompatíveis com a transcrição dos “pormenores” para Cinema. É preciso ver que, mesmo a “leveza” de Kick-Ass 2 (o filme) deu na América uma classificação “R” (justificadíssima), nada apetitosa para os distribuidores no que toca a filmes de Verão.

Kick-Ass 2: como filme

Kick-Ass 2 falha exactamente no que o Kick-Ass original acertava em cheio: não consegue atingir o equilíbrio certo. As componentes  de comédia/comédia negra/violência/“gore” não são geridas de forma a produzirem um resultado consistente. Ao contrário do Kick-Ass original a componente delirante está quase ausente o que contribui para enfraquecer o filme, dado que o “normaliza” e faz com que algum “gore” e violência que se “encaixavam” no primeiro surjam neste como violência gratuita e puro mau gosto. Há personagens que não têm espaço para servirem para nada excepto para fazer número. Uma delas é interpretada por Jim Carrey (vejam lá se o descobrem, eu só percebi a posteriori ao ver a “ficha técnica”)  sem os tiques e trejeitos insuportáveis em que se especializou, mas acaba por não ser relevante para o filme, apenas está lá porque tinha de ser para figurar nas cenas de “team up”. Há reviravoltas (violentas) gratuitas, porque a história poderia evoluir da mesma forma sem elas. Há cenas de comédia metidas em contextos errados o que faz com que a “graça” se perca e sejam de mau gosto. A personagem Dave não tem o tom certo nesta sequela: após tudo o que passou em Kick-Ass, Dave não poderia continuar no registo do banana-bem-intencionado-que-quer-mudar-o-mundo-sendo-super-herói. Esse registo já não é adequado. A certa altura o filme tenta compensar essa postura inicial mas a bem dizer não encontra nada para a substituir e já não resulta. Chloë Moretz continua a “roubar” todas as cenas em que entra: a sua composição de Hit-Girl é uma coisa fabulosa de se ver. Mas de alguma forma o filme não consegue aproveitar, a sua interpretação acaba por se “perder” um bocado na montagem final.

Kick-Ass 2 acaba por ser uma daquelas sequelas que não está à altura do filme original. A BD de Millar e Romita Jr. prossegue, estão a publicar Kick-Ass 3, por isso se calhar não nos livramos da Universal se lembrar de filmar uma adaptação ao cinema daqui por um ano ou dois. Mas por mim, no que toca a Cinema, ficávamos por aqui. A temática da BD é obviamente demasiado forte para ser objecto de uma transcrição literal para Cinema e seria melhor parar antes que os fiascos das sequelas façam apagar o bom trabalho do filme original.

1 comment:

  1. Ora bem nem conhecia o kick-ass (filme ou bd) nem o kick-ass 2!
    Assim de repente, não me parecem muito a minha praia...e o 2, então, nem me vou preocupar com ele! :)

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