Sunday 25 January 2015

Blackhat

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Título original Blackhat
Realização Michael Mann
IMDB  

Chen Dawai (Leehom Wang) um perito em “ciber-segurança” do exército da República Popular da China que cresceu e estudou nos E.U.A. investiga a sabotagem de um reactor nuclear. A análise do código fonte usado para penetrar na rede da central eléctrica leva-o de volta aos E.U.A. onde se reúne uma task force conjunta com o F.B.I. e recruta para o auxiliar o antigo colega do M.I.T. Nick Hathaway (Chris Hemsworth) um hacker que se encontra preso por fraude de cartões. O tempo urge para descobrir quem está por trás da sabotagem e qual é o seu real objectivo.

Por esta introdução começa-se logo a recear o pior. Enredos à volta de hackers no cinema americano são normalmente um passaporte para o desastre. Tipicamente as proezas “técnicas” não têm nada em comum com a realidade e logo à partida destroem a credibilidade do enredo. Em Blackhat, justiça lhe seja feita, as coisas não correm (muito) mal aí. A maneira como são retratados os métodos de penetração e exploração de debilidades de software e até os próprios comandos digitados pelas personagens são algo próximos da realidade, salvo alguma sobre-simplificação e algumas liberdades artísticas (por exemplo, a personagem digita um comando que é realmente assim no “mundo real” mas depois no ecran aparece feedback todo bonito e gráficos quando na realidade só apareceria texto). A tradução portuguesa faz um demérito a este esforço de manter o filme credível porque, como não acerta uma, transforma os dialágos numa algaraviada. Seria assim tão difícil pedir a alguém especializado que traduzisse essas partes?

Podemos portanto dar a Blackhat o “mérito” de ser o primeiro filme americano da história com o mote do “hacking” que o consegue abordar de uma forma razoável e que quando se afasta da realidade e apesar dos disparates, não seria isso suficientemente grave para cortar a “suspension of disbelief”… se o filme não tivesse outros problemas.

Há bacoradas de bradar aos céus: os computadores da bolsa que parecem Cray (!) e com muitas luzinhas para impressionar o patego (!) em que o administrador faz backups para uma flash drive USB (!!) e que entra no sistema com a impressão digital com se isso fosse uma grande medida se segurança (!). O programa da NSA de computação quântica (!) que é capaz de reconstruir dados destruídos pela radiação (!!!!!!). Uma bolsa de derivados cheia de corretores no floor a gesticular (isso já acabou tudo há muitos anos). Mas o grande problema do filme é que, na realidade, Blackhat é um thriller de acção, uma espécie de thriller de espionagem “camuflado”, com uma intriga internacional que leva as personagens a várias partes do mundo à caça do proverbial inimigo oculto que pode atacar onde menos se espera. Sendo um thriller de acção, a grande falha de Blackhat é que é, como dizê-lo? Chato! É provávelmente o thriller de acção mais chato de sempre.

Chris Hemsworth passa este filme no que parece uma imitação do desempenho de Colin Farrel no também de Michael Mann “Miami Vice”. Infelizmente para o espectador não lhe corre nada bem, Hemsworth não consegue ter aquela presença. Parece apenas alguém a fingir que é cool. E a beleza de Wei Tang não chega para aguentar este filme.

E que estaria Michael Mann a fumar quando decidiu incluir aquelas cenas disparatadas logo a abrir onde se mergulha na imagem aumentadada ao microscópio do interior de um microprocessador para “acompanhar” a “sabotagem” ao nível dos transístores? Pensa que somos todos parvos? E quando os componentes electrónicos estão a trabalhar do lado de fora não se acendem “luzinhas”! Que coisa mais infantil. Mas muito mais corre mal. A necessidade de recrutar a personagem de Chris Hemsworth é forçada. A necessidade de recrutar a personagem de Wei Tang é forçadíssima, só está lá para que haja uma mulher que se apaixone pelo protagonista. A relação romântica entre os dois é metida a martelo. Até parece que Michael Mann estava arrependido por Sonny Crockett não “ficar com a rapariga” no final de Miami Vice e quiz de alguma forma compensar neste filme. As cenas de acção  escorregam demasiado para a violência gratuita. O “mau” não tem substância nenhuma – e num filme destes, a “qualidade” do “mau” é fundamental. Sem um bom “mau” não funciona. Além disso o espectador não desenvolve realmente ligação nenhuma com personagem nenhuma e por isso está sempre a ver tudo “de fora”. E está sempre aborrecido porque mesmo no meio de tiros e facadas é sempre tudo chatoooooo.

Fujam.

1 comment:

  1. eu vi este! um destes dias (como quem diz...já foi há algum tempo) num canal qualquer! e é de fugir, é! Mas gostei das 'luzinhas'!! ;)

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