Thursday 25 July 2013

Spring Breakers

sb
Título original Spring Breakers
Realização Harmony Korine
IMDB  

Spring Breakers estreou com um fantástico “hype”, parecia que vinha aí grande filme pelas mãos de Harmony Korine, cujo cartão-de-visita era ser o argumentista de Kids. E foi assim que dei por mim numa sala de cinema sofrendo a inenarrável torrente de anúncios (os mesmíssimos que passam na televisão) em ecran gigante e aos berros em som dolby digital ao contrário de lá em casa, onde, quando me deparo com eles na televisão, carrego no botão “mute” e não me chateiam mais. Pois numa sala de cinema aí estão eles, em todo o seu esplendor. Pelo meio, para disfarçar, um ou dois trailers “coming soon” (que agora metem sempre a expressão “this year”) e depois toma-lá-mais-anúncios-a-telemóveis-e-o-catano e até aos canais TeleCine como quem diz: gostas de Cinema? Assina a TV cabo e deixa de vir ao cinema. O que é um insulto aos potenciais clientes que se quer aliciar. Mas enfim. Bem, mas depois destes intermináveis 20 minutos, aqui temos o filme.

E o filme começa com um longuíssimo travelling sobre uma multidão num areal (na Florida, presume-se) que se entrega a todas as actividades que normalmente se vêem num videoclip de hip-hop (dos mais xunga), não faltando meninas em topless com e sem colares de beads e muita encenação pseudo-sexual, cerveja bebida de mangueira, etc. Ao ritmo de uma banda sonora vinda sei-lá-de-onde, e tudo em câmara lenta. Enquanto desfilam os créditos iniciais. E quando digo longuíssimo não estou a exagerar. É lentíssimo. Quando já estamos prestes a dizer WTF? Mas o filme é isto? corta para uma cena de interiores de uma sala de aulas de um qualquer “college” americano. A cena é filmada sem nenhum dos tiques estilosos do travelling de abertura. Ah! Suspiro de alívio! Pode ser que afinal venha daí filme. Somos então introduzidos na trama: as amigas Brit (Ashley Benson), Candy (Vanessa Hudgens), Cotty (Rachel Korine) e Faith (Selena Gomez) estudam no “college”, são amigas de longa data que querem ir passar as férias da Páscoa (Spring Break) à Florida mas não têm dinheiro para custear essas férias onde a “juventude” se entrega a rituais javardos vários, segundo o mito propagado pela indústria porno, a internet e agora também este filme. Bem, “somos introduzidos” é uma forma de dizer porque a “introdução” é tipo *pimba*. Não há propriamente nenhum desenvolvimento dramático, filmam-se dois diálogos e pronto. Nunca chegamos a perceber porque são estas quatro mulheres amigas, mas aparentemente é de longa data. Como se fosse justificação. Deve ser estatisticamente irrelevante o número de mulheres que chega à idade universitária com as mesmas amigas da escola primária, mas enfim. Entretanto uma delas, Faith, é apresentada como praticante na comunidade evangélica no campus. Ao mesmo tempo que tem como melhores amigas mulheres que obviamente não partilham da moral evangélica. Uma contradição que o filme poderia explorar. Poderia, mas não explora. É preferível explorar planos em que as quatro desfilam em trajes menores reduzidos a rodopiar num corredor a la cheerleaders ou conversam encostadas umas às outras em trajes menores reduzidos, no chão de uma casa de banho de um “dorm” do “college”. Sim, que uma coisa que de certeza que as mulheres fazem na vida real é discutir dinheiro semi-vestidas no chão de uma casa de banho partilhada. Mas então e a questão candente: como arranjar fundos para ir gozar o Spring Break. E embora toda a audiência saiba que a educação num “college” americano se paga muito caro, e que nenhuma das personagens é retratada com os níveis de sageza intelectual necessários para poder aceder a uma bolsa de estudos que pudesse explicar o facto de serem pobres mas prosseguirem estudos universitários, ficamos reduzidos a ter este inexplicável facto diante de nós: as meninas não têm dinheiro. E pronto. Vai daí uma noite Brit, Candy e Cotty enfiam umas meias na cabeça, armam-se com o que têm mais à mão (um martelo e uma pistola-a-fingir) e assaltam um “diner” qualquer. O assalto é filmado pelo ponto de vista da que conduz o “carro de fuga”. Entrevemo-lo pelas montras do “diner” enquanto ela conduz o carro desde a porta por onde o “gang” entrou até àquela por onde o “gang” sai. É uma das poucas boas ideias cinematográficas do filme. Provavelmente é mesmo a única sequência que é uma boa ideia cinematográfica. Adiante. Agora que têm dinheiro, as quatro metem-se no autocarro greyhound para a Florida. Ficamos todos a saber que os “diners” manhosos das cidadezinhas americanas estão a abarrotar de dinheiro, só é preciso assaltar um para custear umas férias. E a nossa inocente Faith (epah repararam? Uma personagem com um nome significativo, somos tão bons) vai toda contente. E agora… epah quéisto?? Outra vez o travelling que vimos no início do filme?? Sim!! E preparem-se porque não é apenas desta vez que o vamos repetir!! Vamos repeti-lo, repetidamente, pelo meio das cenas, quando nos der na real gana e vós menos esperardes! Na Florida, as meninas entretêm-se passeando em bikini e sapatilhas, às vezes coberto com uma ou outra vaporosa peça de roupa, de bebida na mão. Muitas cenas de dança no meio de gente semi-nua. Ah, e dão um passeio de lambreta. Sim, lambreta. Sabiam que havia lambretas na américa? Eu também não, mas pelos vistos há. E vão ficar a saber de cor, porque esta cena do passeio de lambreta vai ser repetida ao longo do filme quase tantas vezes como o longuíssimo trailer inicial. Fixem bem: na américa há lambretas. Entretanto, como o filme está obviamente acima do quociente de inteligência médio do espectador de cinema, tem de recorrer à voz-off de Faith para nos narrar intermináveis arrazoados que é suposto explicar-nos aquilo que deveriam ser as imagens a transmitir-nos. Mas como o filme is too sexy for us, tem de nos explicar assim. Entretanto já passou quase uma hora de filme e quase dois terços disso são repetições do longuíssimo trailer inicial e do passeio de lambreta. As meninas vão a uma festa onde a polícia faz uma rusga. A polícia encontra droga e vai tudo preso. As meninas são presentes a juiz só de bikini e sapatilhas. Um DJ e rapper manhoso (“Alien”, interpretado por James Franco) está na assistência do julgamento (Porquê? Não me perguntem que eu não sei.) e paga-lhes a fiança. As meninas saem da “jail” e vão na maior com este tipo que não conhecem de lado nenhum e trocam diálogos passivo-agressivos e acompanham-no a antros de “gangsters”. Nisto, Faith tem uma “recaída” e resolve dizer que se quer ir embora. “Alien” tenta seduzir Faith mas falha e Faith acaba por apanhar o autocarro da greyhound para se ir embora. Brit, Candy e Cotty ficam. Porquê? Não me perguntem que eu não sei. O filme também não dá nenhuma explicação. E então porque é que demoramos toda esta hora e tal de filme a ouvir os monólogos em voz-off de Faith, claramente a personagem em que o filme mais investe durante todo este tempo, para de repente ela sair do filme? Estás a gozar connosco, Harmony Korine? E quanto à sucessão de planos com tilts para aqui e para ali? Cada qual com um tratamento de côr diferente? Estás a gozar connosco, Harmony Korine? E as constantes repetições de planos, entrecortando cenas, mas variando o tratamento de côr? Estás a gozar connosco, Harmony Korine? E as constantes repetições a despropósito do travelling inicial? E da cena das lambretas?? Estás a gozar connosco, Harmony Korine?

E é aqui que eu saio do cinema. Saio. Não suporto mais isto nem por mais um segundo. Nem por ter “gajas boas”. Não há pachorra. Um filme que finge que é muito estiloso, muito intelectual, mas na realidade é um completo vómito. Que finge que tem uma grande ideia de elenco, mas na realidade o elenco não funciona. A única actriz que tenta construir uma personagem é a Ashley Benson. O resto são caricaturas (e o James Franco tem provavelmente o pior desempenho, e olhem que é difícil ir pior que a Selena Gomez neste filme). Um filme que finge que é um acontecimento-charneira capaz de unir público e crítica mas é apenas uma grandessíssima cagada.

2 comments:

  1. Bom, o filme é de fugir, realmente mas, o que eu me ri com esta descrição...

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  2. Agora fiquei curioso para assistir este "filme" xD

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